II Cerimônia de Nomeação, Investidura e Fundação de família Kung Fu. Agosto de 2024

É correto concluir que o tempo permite experiências e que, a partir dele e de seu transcorrer, o ser humano tende a amadurecer. Assim, é natural supor que pessoas mais velhas sejam mais sábias ou estejam em melhores condições de viver. Entretanto, não é raro encontrar quem, apesar da idade, mantenha posturas infantis ou inadequadas — ou, ao menos, assim são julgadas. O problema, percebo, está no padrão: considerar-se maduro, ou ser rotulado socialmente como tal, é arriscado, pois se trata de um “dever ser” e não de uma condição baseada em capacidade.

Veja o Kung Fu, por exemplo: aquele que é Si Hing, irmão mais velho, o é por precedência. Sim, começou antes a prática. Mas concluir que isso o torna necessariamente mais maduro é perigoso e, talvez, até irresponsável. Por isso, o Si Hing não é apenas o mais antigo, mas também aquele que ensina e, sobretudo, aprende.

Para o praticante, o olhar deve se voltar não à condição de estar ou ser no tempo, mas à real capacidade de apreender o conteúdo que a experiência generosamente concede.


Minha primeira foto Si To. Janeiro de 2008

Fazem alguns anos, Si Fu me perguntou onde eu gostaria de estar em uma fotografia. Não demorei muito para responder que meu lugar favorito, ou — conforme minha imaturidade — de “direito”, seria o centro da foto. O local de destaque, de importância. Talvez até sentado, como o próprio Si Fu, a seu lado, demonstrando experiência e relevância na família.

Mas o questionamento seguiu:

— E, em uma fotografia, quem é o mais importante?

Fiquei confuso por um tempo, achando já ter respondido. Acreditei que ele não tinha entendido, e repeti: quem está no centro da foto.

— É o fotógrafo. Sem ele, jamais haveria foto. Percebe? O mais importante não aparece. Agora, sabendo disso, onde você gostaria de estar?

— Atrás das câmeras — respondi. — Fazendo a foto acontecer.

Você deve estar onde é devido. Na foto, como na vida, cada um tem o seu papel. Saber atuar em cada cenário é a base do Kung Fu. Além disso, é importante ser discreto, expressar sua relevância e considerar, por mais que doa, a própria insignificância.

Fiquei encantado com as palavras. Busquei decorar cada uma delas; quanto a aplicá-las, nem sempre fui eficaz.

IV Imersão na Vida Kung Fu

Como meu mestre mora nos EUA, é comum que seus discípulos o visitem em sua casa. Por diversas razões, ainda não tive essa oportunidade. E, justamente por isso, a experiência de não ter ido me remeteu à história que contei há pouco.
Hoje, como mestre e praticante há tanto tempo, tive diversas oportunidades de “estar”. Em fotos, apareci e também não apareci, de vários ângulos. Isso, em certa medida, pode me dar a sensação de experiência. Fato! Não há vantagem em negar o vivido; o perigo está em se esconder atrás dessa casca.
Já vivi muito, mas, nem de longe, vivi tudo o que a experiência marcial pode oferecer. Por essas e outras razões — escritas em palavras ou implícitas nos contextos —, agradeço ao Si Fu por sempre estar disponível, ajudando-nos a enxergar além do óbvio.

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Guilherme L. S. de Farias
梅法蓮
Moy Faat Lin