Visita das Lideranças do Clã Moy Jo Lei Ou 


Dia 1, Parte 1: Recepção


Acordei cedo na quarta-feira. O voo do Lennart chegaria as 09:30, do Si Fu & Si Mo as 10:05. Com certeza não precisaria ter acordado 5:30 da manhã visto que o Aeroporto Internacional de Gatwick fica há aproximadamente 1 h e 10 min da minha casa. A mistura de felicidade, animação e ansiedade foi tão intensa que saí de casa 07:30. A Anna não entendeu nada! Obviamente (e sem necessidade alguma), cheguei no aeroporto com quase 2 horas de antecedência. Tomei um café expresso e sentei próximo ao desembarque. Enquanto esperava o voo chegar, passei em frente a uma máquina de cash exchange que auspiciosamente se encontra em frente a uma das maiores redes de cafeteria aqui na Inglaterra, “Costa”. Deve ser coincidência… de qualquer forma, caiu como uma luva pois pude preparar os Hong Bao com a moeda local do Si Fu.

Esperando o ônibus “SL7 Super Loop” com direção ao Aeroporto Gatwick


Como anunciado no telão, o voo havia chegado no horário esperado e fiquei os aguardando no desembarque. Como é engraçado como certas coisas passam despercebidas quando não damos muita bola; olhei para o lado e tinha muita gente — a maioria contratado para fazer transporte — com placas com o nome das pessoas os aguardando. Achei aquele fato muito curioso e lembrei que tinha um Ipad que uso para o trabalho dentro da minha mochila. E aí tive uma idéia de fazer o mesmo com o Si Fu. Foi muito engraçado porque o Si Fu me viu seguramente há 100 metros de distância. Segundo ele, a logo do Instituto Julio Camacho era visível do outro lado imigração (risos)! O pior foi tentar acerta a portinha automática que ele ia sair… fiquei correndo pra lá e pra cá e acabei acertando. O mais interessante foi que quando o Si Fu saiu da porta “Arrivals”, era visível que todos ao redor do local onde eu estava inicialmente acharam que o Si Fu era algum tipo de super herói de filme: ele estava com o uniforme completo e eu segurando uma plaquinha com a logo que estava impressa na roupa dele. Ao mesmo tempo, Lennart me enviava uma mensagem dizendo que havia chegado e ia em direção a minha casa. Ele desceu em um aeroporto no extremo Norte da cidade e eu tentava orientá-lo como dava, mas também tinha que cuidar do Si Fu e da Si Mo. O dia havia começado a mil.

Da esquerda pra direita, Si Fu, Moy Tai Lei e o bendito Ipad


Após um caloroso momento de encher o coração de alegria (e alguns abraços apertados) com a Si Mo e o Si Fu, fomos em direção ao trem. A Si Mo imediatamente me disse como aquilo lembrava os filmes do Harry Potter e a primeira coisa que passou na minha cabeça foi que só teríamos 1 dia e meio e não daria tempo para levá-la até a estação de King’s Cross, onde fica a estação real do filme do Harry Potter. Ficará para uma próxima oportunidade e eu inclusive anotei nos meus lembretes!


Si Fu, Moy Tai Lei e Si Mo aguardando o trem


Bom, chegando no trem, primeira surpresa. Só pra dar um pouco de contexto, a catraca dos transportes aqui funciona com cartão “contactless” ou uma espécie de um vale transporte aqui que chama Oyster Card. Obviamente já sabia que tinha saldo nos meus dois cartões do banco, os quais rapidamente entreguei ao Si Fu e a Si Mo e aguardei eles passarem. A catraca abriu como esperado, mas na minha vez, o Oyster Card não foi aceito. Perguntei a moça que estava trabalhando ali e ela me informou que o travel card (que é o status do meu Oyster Card) não era aceito no Aeroporto, o que foi muito curioso. Precisei pedir para o Si Fu e a Si Mo sentarem num canto para que eu conseguisse colocar crédito no cartão. Um fato um tanto quanto inesperado, mas que reforça a idéia de como Kung Fu te dá um ambiente controlado para cometer erros e sempre evoluir. E isso foi após apenas 10 minutos com Si Fu. Entramos no trem em direção a Croydon, de onde pegaríamos um ônibus para Sutton, e começamos a conversar.

Si Fu e Si Mo no trem em direção a Croydon


Como sempre, a conversa foi extremamente proveitosa. Si Fu me perguntou sobre as mudanças que haviam ocorrido devido ao Brexit e elogiei muito o uniforme. De fato, eu gostei muito do casaco! E a shoulder bag proposta pelo Carlos Antunes Si Hing foi excelente idéia. O Si Fu colocou todos os seus documentos importantes lá, o que facilitou o acesso. Achei tão boa idéia que resolvi pedir uma similar na Amazon pra viajar semana que vem.

Enfim, chegamos em Croydon e a segunda surpresa do dia: uma obra gigantesca que nos fez dar uma volta completamente desnecessária ao redor da estação de trem. Conversamos sobre como Londres está frequentemente em obras, ainda mais nos pedaços mais antigos da cidade. Croydon foi eleito o “Capital of Culture” da cidade e está numa fase de super renovação. Bom, entramos no ônibus e a Si Mo queria muito pegar um ônibus de dois andares. Como todo bom discípulo, escolhi um número (com auxílio do fiel Google Maps) de ônibus que batia com a descrição da Si Mo. Eles sentaram no andar de cima por alguns minutos e tiraram algumas fotos; em seguida, desceram pra retomarmos a conversa.




Tive uma conversa profunda com o Si Fu a respeito do objetivo da criação do Instituto Julio Camacho de Ving Tsun Kung Fu. Imediatamente consegui perceber a riqueza desse movimento, o que me gerou muitas questões que eu só iria entender mais tarde. No meio do translado, recebi uma ligação do Lennart dizendo que estava perdido. Ele me ligou de vídeo e foi muito engraçado porque ele estava literalmente embaixo do prédio! 

Entrada do prédio


Lennart e Si Fu se revendo após 3 anos


Chegamos em casa e o Lennart estava esperando no corredor. Si Fu e ele se abraçaram bastante e entramos em casa. A Anna estava fazendo um prato bem tradicional da família dela, “frango sentado na cerveja” e eu fui fazer meu arroz especial; com toda sinceridade, nossa combinação é imbatível! É um prato bem inusitado, o frango é assado no forno em cima de lata de cerveja de 330 ml. O Si Fu pediu a receita e eu imediatamente avisei pra Si Mo que pra comer outro desses, só voltando aqui novamente. Enquanto isso, o Lennart só pensava na parte da cerveja (risos)!

Si Fu e Lennart tentando roubar a receita que eu efusivamente proibi a Anna de passar (risos)




No final daquele almoço, o Lennart presenteou o Si Fu e eu com um livro de sobremesas tradicionais da Suécia, “Fika: The Art of Swedish Coffee Break.” Pra mim, aquilo foi muito especial. Primeiro, a minha esposa que é a doceira da casa (literalmente quer abrir uma doceria) então sinto que foi diretamente pra ela, e isso me emociona. Segundo, é visível o cuidado que ele teve com aquela escolha — isso fala mais do que o próprio ato de presentear. Como diz o Si Fu, presente é pra quem dá e não pra quem recebe. Enquanto tudo isso acontecia, a Chloe corria pra lá e pra cá. Foi muito especial ver a família Kung Fu “colidindo” com a minha família de sangue. 



Quando olhei no relógio, ainda eram 13:30. Havíamos chegado em casa há apenas 1 hora e tudo isso já tinha acontecido. Aquela tarde prometia…

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Thales Guimarães
Moy Tai Lei