Já estávamos nos acostumando com a grama, com aquele solo irregular.


Mas passado alguns momentos, nos chama para voltarmos para área da piscina:



Para mim, esta mudança repentina de terreno deu-me a impressão que estava com os pés enterrados até o tornozelo no concreto de tão enraizado que estava me sentindo.

Depois do café, voltamos as tarefas:


Si Fu percebendo que eu estava ficando avulso, começou a me mobilizar:

Me colocou para dar a 2a demão na antessala.

Gostei de fazer isto, me lembrei de meu avô paterno, pois este era seu ofício. Agora a poucos meses, descobri que com um velhinho que era ajudante dele quando garoto que a especialidade dele era fazer letreiros com as tipografias usadas em época. 

Na 2a demão aprendi com o Antunes uma dica, pois estava botando muita pressão no rolo fazendo um pequeno aerossol no cabo.

Si Fu me fez uma demonstração incrível com a vassoura da piscina: com apenas uma mão e um movimento contínuo varria da lateral até o fundo em direção ao ralo com tanta energia que ficava a faixa limpa contrastando com os lados com aquele monte de poeira espiralando na direção do ralo. Não sei como ele fazia um movimento para mudar a direção da ponta da vassoura como se estivesse com a outra mão segurando no meio.

Claro que tentei em vão por várias vezes reproduzir o que tinha visto, mas cumpri a tarefa. Quando ele retornou cometei com ele sobre a resistência imposta pela água ele aproveitou para falar sobre nossos antepassados no "Junco Vermelho" das dificuldades de quando a embarcação agarrava na vegetação e do sincronismo entre os que usavam o bastão.

Acho que se um dia acessar este domínio, muito vou me lembrar deste momento!

Já estava chegando ao fim do dia e confesso que estava já ficando com um sentimento de satisfação, até que: "Rangel, coloque por favor os quadros de volta para fazermos o podcast mais tarde."

Volte 2 fotos e verão os quadros no meio da sala sobre o sofá. Lembrei-me depois que assim que chegamos eles contaram a saga anterior para colocá-los e Si Fu já tinha dito como resolveu rapidamente. 


Depois de duas demãos, os pregos de suporte estavam soltos e alguns tinham rasgado o drywall. Com a experiência anterior com a parede ao lado não queria transformar está num queijo suíço. Para piorar os quadros tem pequenos desalinhamentos entre si, ou seja, se ajeita de um lado desarranja do outro.

Foram 2 horas sendo esmurrado pela tarefa, sem exagero, 2 horas! Pois eu queria manter os pregos onde estavam o que era impossível por estarem soltos. Durante este tempo ciclicamente ouvia:

- "Rangel, vamos ter podcast hoje? Estamos dependendo de você"
- "Ainda Rangel, vai ficar aí mais quanto tempo?"
- "Rangel, não é possível! Ajusta com os pregos, Rangel!!!"

A tensão estava crescendo, para tentar driblar o nervosismo fazendo tiradas tipo: "Silva, avisa ao Pereira que impedi o episódio do Podcast". Carlos Antunes me olhava meio questionador (sem falar nada), assim: "como é que este doido está fazendo piada?"

Si Fu ainda me deu orientações com muita paciência sobre como colocar e saiu, ao tentar usar uma fita para manter um ajuste ainda machuquei a pintura, voltando disse:

- "Porque vocês não escutam o seu Si Fu..." (ele repetiu isto várias vezes em vários momentos)

Repetiu as orientações e lá fui eu para mais algumas rodadas de tentativas fracassadas e depois de não mais suportar minha miserável situação, ouço: "me dá aqui Rangel!". Pois é, estou vendo o Si Hing Guilherme ladeando a cabeça para a situação.

Ele pega o martelo, ajusta um prego, coloca primeiro quadro e me pergunta: "está alinhado?" Confirmado, ele coloca 2 pregos em novos buracos, faz o ajuste alinhando as arestas superiores, marca a distância entre os quadros dizendo estar um pouco mais afastado que gostaria, mas estaria aceitável. Disse:

- "Difícil? Então agora é só fazer o resto!" 

Em 3 minutos ele fez o que não consegui em 2 horas!

Novamente ele saiu, acho que para pegar a Jade, e em 10 minutos tinha colocado os outros 2 e o Antônio ajustado a parede com a pintura machucada. Ainda estava ajustando e pra mim estava razoável dado ao não encaixe natural das peças, mas para ele ainda estava horrível, mas deu por terminada a tarefa.

Nem preciso dizer que estava simbolicamente morto, completamente arrasado e constrangido. Arrumamos toda a sala, desistiram do Podcast e Si Mo chegaria mais tarde do trabalho e Si Fu deu preferência a prática do "Do" com os três.

Por sorte minha, Jade e Luíza fizeram a janta para alegria de Si Fu:

Ao fundo, na parede o adversário que me derrotou!

Todos falamos sobre o dia, pontos altos e baixos e claro não poderia deixar de expressar o ponto nevrálgico que me coloquei. Abordei que meu maior problema do dia não tinha sido um quadro, mas que ao fazer algo para alguém queremos na verdade levar satisfação para ela e quando percebemos que estamos falhando a frustração se mistura com desespero na passagem do tempo e o desapontamento com o resultado constrangedor. 

Si Fu vendo que realmente eu estava arrasado com feridas abertas da guerra ainda, muito habilmente converte a situação. Primeiramente abordando a confusão que fazemos neste momento, pois num ambiente marcial "a subjetividade da relação" superou a objetividade da tarefa. Colocar um quadro é muito mais fácil que satisfazer outra pessoal e falhei porque meu foco estava no lugar errado.

Comentou que certamente não faria isto desta vez, pois Si Mo chegaria cansada e a acordaria, mas em outros tempos ele ajustaria os quadros na madrugada sem ninguém ver. Pois esta é uma outra conduta que poderíamos tomar nestes casos.

Contou anedotas similares e uma história de Si Gung das primeiras vezes que ele estivera em São Paulo para praticar.

Terminado a janta ele nos dá acesso ao Luk Sau para praticarmos e ... 



... nos dá um abraço antes de subir para trabalhar o "Do" com os três formandos.


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Alex Rangel