Ano passado, vivi uma situação um tanto quanto curiosa: Fui abordado por sete elementos na orla de Ipanema. Os cidadãos pretendiam roubar meus pertences com destaque para o cordão de ouro que usava.
Dizem na TV, que não se deve reagir a um assalto, mas isso não é de todo verdade. O que deveria ser feito, é uma tomada de decisão baseada na leitura do cenário. Correr ou lutar, ou qualquer outra possibilidade. Fica a critério da leitura de um cenário. Para o estrategista, o cenário é soberano, mas naquela noite de Domingo, eu resolvi reagir. Mesmo contra sete de uma vez! Eu não os havia visto se aproximarem, não sabia se estavam armados, nem nada parecido. Tudo naquele cenário dizia para eu correr, mas eu decidi enfrentar eles.
Dias depois, conversando com Si Fu num jantar, expliquei que havia tomado aquela decisão, pois quando tinha meus quinze anos de idade, comecei a praticar o Ving Tsun para aprender a me defender na escola e no bairro perigoso em que vivia. Eu disse: "Aqui dentro, havia ainda aquele Thiago que procurou o Ving Tsun. Achei que devia isso a ele. Me pergunto Si Fu, sobre o quanto em meu intimo desejei uma oportunidade assim por vinte anos. De certa forma, acho que realizei um sonho." - Si Fu apenas sorriu e respondeu: "Que bom Thiago! Por isso que você não deve nunca se envergonhar de um sonho que você tenha. Seja ele qual for."
Por isso que alguns anos atrás, ao receber uma ligação de Si Fu enquanto estava num compromisso em Olaria, na Zona Norte do Rio. Larguei tudo o que estava fazendo para encontrar com ele em Madureira:"Tive que vir a Madureira e lembrei de você." - Levei Si Fu por alguns recantos do bairro e até comprei um "TOBI" para ele beber(FOTO)(risos). Estava bem entusiasmado por estar com meu Si Fu, pelas ruas de um bairro que eu gostava tanto de caminhar.
Algo aconteceu nesse espaço de tempo, e hoje me vi caminhando com Si Fu(FOTO) não por Madureira, mas pela Bahnhofstrasse(Strasse= Rua e Bahnhof=estação de trem)!A rua mais famosa e importante de Zurich. E sabe do que mais? Me sentia completamente em casa!
Havia estudado esses caminhos com afinco no ultimo mês inteiro, e como uma versão suíça da "Tia Estela" da "Estela Barros Turismo". Ia conduzindo Si Fu e meu irmão Kung Fu, Claudio Teixeira, pelas ruas e vielas do centro de Zurich.
Desde que pousamos na Suiça, ou quando estávamos no TRAM que nos levaria ao centro(FOTO).Conduzi a delegação pela cidade como se estivesse naquela Madureira que Si Fu visitou. O que mudou em mim? Quando meu mundo se ampliou dessa forma? Posso citar aqui alguns episódios, mas nada que possa explicar de fato esse processo de transformação silenciosa.
A "Vida Kung Fu" acontece a todo momento, desde que, orientada por alguém que também a tenha vivido como Si Fu. No momento registrado nessa foto, fizemos uma pausa para tomar um café numa loja da STARBUCKS a beira do Rio Limmat, que como uma especie de Rio Sena, corta o centro de Zurich ao meio.
Seria uma simples pausa, mas Si Fu aproveitou o momento oportuno e se aprofundou numa série de temas, com destaque para nosso melhor entendimento sobre os Programas do Clã Moy Jo Lei Ou.
Por outro lado, eu que tenho em meu "Nome Kung Fu" o ideograma "Fat", comecei a me inquietar por estarmos "estourando" o horário da programação que havia feito. Sobre esse episódio resumirei com uma fala de Si Fu:"Pereira, não olha só a programação,olha a sua volta!"
Ainda às margens do Rio Limmat, que tanto li nos guias de viagem, Si Fu parou quando faziam 4C e nos convidou a fazer Chi Sau. Os pedestres passavam e nos olhavam desconfiados, e naquele momento me senti um pouco tímido, veja só! Com o tempo fui me soltando...Mas estava com muito na cabeça: Pensava em não fazer um Chi Sao aguerrido, em usar o que conversamos durante o Chi Sao em Lisboa e pensava nas pessoas que passavam...Muita coisa na cabeça: Chi Sao ruim!
Mais tarde no dia de hoje, Si Fu conversaria comigo me perguntando sobre em que outro momento eu o vi dedicando tanto de seu tempo a uma única pessoa:"Pereira, quando você me viu dedicar onze dias a alguém?"- Aquela pergunta me emocionou, mas não faz de mim especial. Vejo esse fato, como a coragem de Si Fu em ir o mais fundo que alguém pode ir, na relacão "Si Fu-To Dai". Abrir mão de seu próprio tempo, pelos sonhos de mais de quarenta discípulos.
(São vinte um anos ao lado de Si Fu, com ele levando mais a sério do que eu muitas das vezes.
Cada empreitada, cada sonho, cada saga vivida.)

Avançamos por ruas e vielas do Centro de Zurich, e tudo parecia extremamente organizado e elegante. As casas não tem cores vivas, e isso traz uma sobriedade muito grande. A loja da Apple por exemplo, parece apenas mais uma loja em meio a tantas vitrines de muito bom gosto. Além disso, um grande sentimento de segurança.
Mesmo adoentado e andando tanto quanto nós. Si Fu parece sempre atento. Na foto acima, vemos o momento logo após um funcionário de um Grill onde paramos para almoçar, ter trazido copos limpos. Muito interessante dizer que as vezes a "Vida Kung Fu" traz um nível de tensão tão grande, que mesmo meu experiente irmão Kung Fu havia pego copos sujos de cerveja, ainda que o funcionário estivesse dizendo:"Hey! Estão sujos!"
Algo misterioso então aconteceu: Quando estávamos ainda à beira do Limmat em direção ao China Garten. Si Fu subitamente entrou em uma pequena rua para admirar o castelo que aparece atrás dele na foto. O que mal sabíamos, era que se dão aulas de Ving Tsun de alguma linhagem que não identificamos.
Quando chegamos ao "Lake Zurich", Si Fu nos pediu que fizéssemos "Chi Geuk". Desta vez, a dificuldade de conectar estava com Claudio. Fazia muito frio, ventava muito, e Si Fu levantou-se e fez pessoalmente com ele. Foi um momento único.
Encerramos o dia com mais uma ótima refeição em nosso restaurante favorito, dentre tantos em Kloten: O Dragão Duplo! Lá, fizemos uma reunião muito valiosa para encerrar este dia que marcou a chegada à metade de nossa odisseia pela Europa.
Voa! Mas voa alto!