No dia 05 de Marco de 2019, eu, o Si Fu Júlio Camacho e o Si Hing Thiago pereira, tomamos um café da manhã no hotel em Kloten perto do aeroporto da Zurique. Conversamos um longo tempo à respeito à respeito de como o refino de pequenas atitudes tem altíssimo potencial de afetar grandes ações. Digo isso porque dormirmos num quarto que muito me lembrou os apertados dormitórios de embarcações de pequeno porte. Uma tolha, ou um item pessoal fora do local adequado, afetava diretamente o bem estar do grupo todo.





Cada vez mais compreendo que a busca pelo alto nível de Kung Fu está em na identificação dos padrões de acção, em busca de reforçar aquilo que favorece à efetividade, e modificar o que não. A conversa se estendeu por um bom tempo na busca da compreensão de como cada detalhe vivenciado na relação Si Fu Todai, porque o convívio intensivo nos expõe ao limite. Me lembro de uma das conversas que tive na primeira viagem internacional que fiz com o Si Fu para Nova Iorque, onde ele me disse que ali não dava para esconder, não era como no Mogun que simplesmente poderia colocar menos que o necessário, não se tem como jogar a tolha como num Chi Sao onde não está se sentindo tão bem no dia, e faz corpo mole porque não que passar pela mesma experiência frustrante de tentar dar cinco passos com o Daai Si Hing Leo Reis, e ir ali beber uma aguinha, já pedindo pra sair. E muito pior, não dá pra desistir de ir um dia porque teve um problema ou outro. Vida Kung Fu em viagem é uma batalha onde todos entram juntos e saem juntos.


Terminando o Café da manhã, fomos até a estação de VLT na porta da hotel e encaramos o que é andar num serviço de primeiro mundo. Começamos explorar as paisagens desse país onde tudo parece ter sido feito não só com excelência, mas com elegância. Os subúrbios por onde passamos, limpos à um nível, que quando passei por uma estação com uma lata de refrigerante jogada debaixo do banco, chegou-me saltar aos olhos de tamanha dissonância. O monitoramento de viagem expondo o tempo que faltava para as estações à frente era de uma precisão que chega assustar. Passamos até por algo que identificamos como um pequeno campo de refugiados. Uma quadra com casas bastante humildes, feitas de material barato, cada qual com uma bandeira de nacionalidades diferentes acima. Mas todas as casas demonstravam uma dignidade em suas estruturas.


Chegamos em Zurique, conectados com tudo ao redor, e iniciamos um exercício o quanto seria desafiador trazer para uma sociedade como essa um proposta de desenvolvimento humano conforme buscamos no Sistema Ving Tsun, para uma sociedade com esse padrão. Enquanto caminhávamos, buscávamos conceituar essa pergunta colocando sob a lente do Kug Fu atualizando à cada nova observação. Percebo cada vez mais que a capacidade de se refinar a cada estratégia pensada para uma viagem dessa, só acontece mesmo quando se vivencia o cotidiano do planejado através da atenção cuidadosa em cada ação que praticamos. E terminei essa manhã por perceber o quanto vale à pena se lançar rumo tantas culturas diferentes para entender cada vez mais como se melhora a maneira de se aprender, assim como a de se ensinar.