A tônica da tarde de 05 de Março de 2019 foi atuar sobre desafios. Estar aqui é um desafio muito grande para mim, quando o Si Hing Thiago Pereira em convidou para essa comitiva, pedi uma semana para responder, estudei todas as possibilidades, percebi claramente por uma série de circunstancias pontuais da minha vida que não haveria condições plenas para estar aqui, e disse à ele que poderia me comprometer em apoiá-lo nessa viagem dando a assistência que fosse necessária durante o roteiro previsto.

Enquanto caminhávamos pelas ruas geladas de Zurique o Si Fu Júlio Camacho nos sugeriu um café para alinharmos uma série de conceitos sobre toda estrutura dos Programas do Clã Moy Jo Lei Ou. Enquanto nos aprofundávamos nesse projeto cada vez mais amarrado pela competência do Si Fu, buscávamos entender o como poderíamos extrair desse trabalho feito com tanto esmero, ferramentas para as possibilidades que observamos nessas viagens. Havia uma harmonia no entendimento que o Kung Fu não nos permite o lugar comum da ação pela necessidade. Cada situação deve se explorada em seu potencial de como ir além, cada Instrumento funciona como uma convidativa porta desse mergulho cada vez mais profundo na riqueza de se gerar e extrair benefícios da natureza humana.

Depois dessa conversa, caminhámos às margens do Rio onde o Si Fu nos estimulou experimentar o desafio de se praticar Chi Sao diante de uma ambiência. Eu e Si Hing, sob um cortante vento gelados, buscamos relaxar, mesmo sob pesados casacos, luvas nada apropriadas para a pratica e um piso de pedra brita bem escorregadio. Saindo totalmente de nossa zona de conforto das práticas convencionais. Como se não tivesse sido bastante, o Si Fu ainda nos propôs emendarmos no Chi Geuk sob um cais que tornava a água nada convidativa. Nesse momento, o desconforto das roupas começou me parecer um peso além, e não conseguia conectar com o Si Hing nem ao dispositivo. Percebendo minha falta de sintonia, o Si Fu me levou para ponta do cais e começou praticar comigo puxando tom cada vez mais para o alto. Entrei naquela condição que ou eu relaxava, ou.... bom, a água gelada não me pareceu uma boa opção.

Findo as praticas, partimos para um lanche, e depois retornarmos ao hotel, onde tivemos mais algumas conversas sobre questões da Família Kung Fu e depois partimos par, finalmente, um verdadeiro jantar Chinês, com sabores que só me lembro de ter sentido em Chinatown. Enquanto amadurecíamos alguns conceitos, conversamos sobre o como poderá ser o evento de final de ano para ida aos EUA em função do aniversário de nossa Matriarca Madame Helen Moy. Perguntei ao meu Si Hing se ele abriria o convite de levar seus discípulos, e ele expôs ainda achar prematuro. Entramos em alguns assuntos de natureza financeira, e fique me lembrando o quanto eu era imaturo ao por meus pês num avião na primeira vez com meu Si Fu, o quanto estava longe de estar preparado para aquela viagem, e como sai transformado dela. Quase ao fim de nosso jantar, meu Si Hing me perguntou se eu aceitava tomar essa viagem atual, não só como um participante dando apoio, mas como um projeto nosso, principalmente em seus desdobramentos. Essa foi a hora de por minhas cartas na mesa e barganhar que minha aceitação dependia apenas de uma condição: que os membros da Família Fat Lei estariam autorizados ir na próxima comitiva para Nova Iorque. Trato feito.

Vida Kung Fu é uma Jornada de grandes desafios atento à todos pequenos detalhes, onde o olhar de um Si Fu nos permite buscar eficácia em cada ação. Um caminho sem volta na busca de transformar cada dificuldade em desafio, e de cada desafio uma lição. Um lente que me ensina olhar uma dimensão que não me permite vitimar de nada, nem mesmo de meus defeitos. Mas tirar proveito de maneira legítima de cada circunstância, me tornando um humano melhor.