Zurique-Varsóvia 2019, Dia seis.: Para onde eu vou? Por Claudio Teixeira
Dia 06 de Março de 2019 foi o marco da virada de metade dessa viagem. Existem estatísticas que dizem que a grande maioria dos acidentes de trânsito em viagens se dá próximo do destino. Mas onde fica o destino na vida Kung Fu? Acordamos no horário previsto para as atividades da manhã. Café da manhã, translado até o aeroporto, check in, revista se segurança, localizar portão de embarque. Tudo aparentemente sobre controle, ainda mais quando entramos no piloto automático nas complexidades de uma viagem como essa. O Si Fu Julio Camacho nos apontou que eu e Si Hing Pereira apresentávamos sinais de cansaço, e nos alertou que esse era o momento de maior risco da viagem. Meu primeiro movimento claramente foi negar essa condição, até porque na minha cabeça, já aguentei solavancos maiores. Na hora que o portão abriu, vesti meu casaco e ao contrário do que sempre faço não vesti meu sobretudo . Pegamos o ônibus até a aeronave, quando coloquei os pés na escada do avião, me dei conta de deixei minha mochila no saguão de embarque. Procurei a pessoa que me parecia ser o responsável por embarcar os passageiros, e ele me respondei que estava tudo sobre controle. Mas quem disse que eu acreditei? Mantive a calma, mas por orientação do Si Fu, me mantive próximo da porta pensando quais possibilidades numa hora dessas. Até que em alguns minutos sobe a escada uma aeromoça com mochila na mão. Passado o susto, rumamos para a Polônia, nesse novo desafio dessa jornada.
O vôo só não seria mais tranquilo se meu Si Hing não tivesse me informado que as tatuagens da menina ao meu lado deixavam claro que ela pertencia à máfia Russa. Até porque eu não poderia jamais perder a oportunidade de tentar interagir com alguém literalmente saído dos melhores filmes de ação e espionagem, Confesso que tentei de tudo, ser simpático, sorrir, oferecer meu chocolate brinde do avião. Mas ela parecia determinada demais em cumprir sua missão que quem sabe envolva armas, contrabando, plutônio, ou até mesmo entregar um telegrama criptografado que possa acabar com a paz da Europa Central. Melhor parando por aqui, porque a ultima coisa que pretendo fazer na minha vida é concorrer com o estilo Si Hing Pereira de escrever.
Após nos hospedarmos num agradável hotel à passos do Aeroporto, partimos para Cidade Histórica da cidade, onde o frio cada vez mais se tornava um desafio menor para se enfrentar. Almoçamos numa espécie de cantina típica, onde o Si Fu levou o assunto para nossa Genealogia, e tive a mais forte experiência emocional dessa viagem. Onde pude finalmente começar preencher uma série de lacunas no meu próprio conhecimento sobre a riqueza da história da transmissão do Sistema. A minha necessidade de me aprofundar nesse aspecto sempre foi tamanha, que mesmo depois que retornamos ao Hotel, passei horas no assunto com meu Si Hing no quarto, sendo apoiado pelo seu vasto conhecimento.
Após esse momento impar de relação Si Hing-dai, fomos jantar, onde fizemos um balanço do dia e conversamos sobre questões pessoais. A grande diferença de um jantar comum entre amigos que falam sobre a própria vida, é que apenas uma ambiência onde a perspectiva Kung Fu impera, podemos colocar uma lente à mais que não nos permite nos escondermos de nós mesmos.
Eu sinto cada vez mais confiante no que o destino me reserva depois dessa viagem, não existe maior liberdade nessa vida que saber quem se é. Na minha missão de ser um legatário do Sistema Ving Tsun, acredito, que nunca me senti tão legítimo de ser descendente dessa Linhagem de Mestres. Pouco me importa para onde eu vá de agora para sempre, pois sinto hoje mais que nunca, condições de fazer algo sugerido pelo meu Si Fu desde de o dia do meu Baai Si. Me apropriar de meu nome Kung Fu.