Assim que acordamos na manhã de sábado, dia 16 de março, tínhamos adiante um longo dia e algumas providências a serem tomadas para receber nosso Si Fu e os demais membros da comitiva do Clã Moy Jo Lei Ou no aeroporto de Congonhas, São Paulo. Paralelamente ao nosso compromisso principal, eu, Maria Alice e Carmen fomos bem cedo ao bairro da Liberdade, a fim de adquirir itens para os núcleos do nosso Clã, peças que não se encontram com facilidade no Rio de Janeiro.


Até mesmo uma simples ida a um local de compras pode ser uma oportunidade de refinamento das nossas ações, sob uma perspectiva Kung Fu. Ali, três mulheres com naturezas bem distintas, mas que convergiam numa busca pela forma mais adequada de cumprir as missões da viagem. Também foi um momento de manter a sintonia com a outra parte da comitiva, através dos contatos por telefone e mensagens, sendo para monitorar a saída do voo no Rio (onde chovia consideravelmente naquela manhã), seja para esclarecer que itens a serem levados para o Mo Gun com as notas culturais do Si Hing Pereira. Esse foi o desafio: manter a sintonia da comitiva, mesmo não estando todos juntos naquele momento.


Após as compras, partimos de volta para o apartamento de Carmen, se arrumar para a grande noite do aniversário do Si Gung. Eu já havia criado muitas expectativas sobre o evento, desde o momento em que meu Si Fu anunciou, ainda em fevereiro, a formação da comitiva do Clã para tal acontecimento. Mas, nem nos meus melhores sonhos, vi algo tão extraordinário e tão bonito quanto a cerimônia na qual presenciamos naquela noite de sábado. Desde o restaurante até a presença de pessoas que são a própria história do Ving Tsun no Brasil fizeram desse evento algo único na minha memória.


Nesta ocasião, além de comemorarmos o 55º aniversário do nosso querido Si Gung, houve também a cerimônia de titulação à mestre de membros vitalícios da família Moy Yat Sang: Ricardo Osse (in memoriam), Paulo Camiz Filho, Fabio Campi e Maria Cristina de Azevedo. Uma cerimônia marcada pela emoção, pelas lembranças históricas e pela renovação, em todos nós, do compromisso com a família Kung Fu. Não tem como não ficar tocado com as palavras emocionantes do nosso Si Gung, relatando a conversa que teve com seu pai, há muitos anos, sobre o que afinal de contas ele fazia que levava tanta gente para sua casa, o que era o Ving Tsun. Essa conversa, há tanto tempo, mudou o curso da história e, por conseguinte, afetou a todos nós, praticantes dessa arte marcial tão emblemática e especial.


Há muitas outras impressões desse evento, coisas que ainda estão no campo do invisível, mas que, de alguma maneira, vão se revelar para mim futuramente. No entanto, o que claramente eu vejo é um marco para minha experiência, um antes e um depois dessa viagem. Nada será como antes. Até aonde o Kung Fu me levou? Sem dúvida, para além do que eu mesma fui capaz de imaginar.