Para quem me conhece mais de perto, sabe o quanto gosto do seriado "Smallville- As aventuras do Superboy" que passava no SBT. Na serie, Clark Kent(Tom Welling) ainda estava descobrindo seus poderes, e para resolver os desafios de cada episódio, ele contava com seus amigos. Dentre eles, destacava-se Chloe Sullivan (Allison Mack). Chloe usava o computador do jornal da escola chamado "A Tocha" (The Torch no original), para dar as pistas e informações necessárias para Clark completar suas missōes.
Minha To Dai Caroline Archanjo, vem sendo minha Chloe durante toda a viagem. Sua assistência ao longo destes nove dias, foi fundamental em vários momentos. Principalmente devido ao nível de imersão nossa e da diferença de fuso-horário, as informações enviadas pela Caroline, tem sido de grande importância.
Hoje não foi diferente, por seu intermedio, me foi possível descobrir precisamente a estação em Bruxelas que deveria pegar o trem para Luxemburgo, sua plataforma e seu trajeto. Digo isso, porque pelo fato de não conhecer a cidade nem a estação e por ser muito cedo, sabia que precisava ser muito certeiro para não perder o trem. E quando cheguei à plataforma com Si Fu, pensei:"Quem diria, que o garoto de Rocha Miranda que só conhecia Madureira, guiaria um dia seu Mestre de Ving Tsun por Bruxelas?"- Mas no fundo, sabia que a "Chloe Sullivan" da Família Moy Fat Lei, tinha realizado isso junto comigo.
Meu irmão Kung Fu demorou a "ligar" no dia de hoje, e Si Fu falou de forma assertiva com ele por muito tempo desde que saímos do hotel. De minha parte, com receio de perder o trem, sugeri que fossemos para a plataforma muito antes do que o necessário. Isso fez com que Si Fu ficasse recebendo um vento de 1 C, e ele me chamou à atenção com relação a isso.
Pouca gente sabe, mas fico muito enjoado quando ando nesses trens rápidos europeus. Foi assim com o trem que ligava Barcelona à Madrid em 2017(FOTO). Minha cabeça parece virar um aquário e meu estômago embrulha como um bolo de aniversario de criança embrulhado com papel laminado.
E em meio a todo esse enjoo, eu e Claudio pegamos no sono. Ao abrir os olhos, Si Fu parou de escrever em seu computador, e sentado na poltrona diante de mim, começou a falar por muitos minutos, sobre a razão de eu ter dormido: "Aproveitei o intervalo." - respondi de forma inocente, mais preocupado com minha cabeça girando e meu estômago dando voltas. - " Que intervalo Pereira?" . - Si Fu chamou minha atenção de forma veemente.
Si Fu falou de sua dedicação a viagem, de todo o seu empenho, e de como eu poderia explicar a ele, o fato dele estar focado e acordado e nós dois dormindo. Ele me perguntou, porque aquele momento deveria ser considerado um intervalo:"Você realmente só está preocupado com seu roteirinho? Você acha que não podemos aproveitar nada nesse momento?" - Si Fu fez uma rápida pausa, cruzou seus braços e perguntou:"Me responde uma coisa: O que eu estou fazendo nesse trem?".
Quando a situação ja estava se acalmando, escutamos um ronco alto do banco ao lado na outra fileira. Era meu irmão Kung Fu! - "Por mil demônios!" - Pensei. Acordei Claudio só para a chamada de atenção de Si Fu começar toda de novo.
Quando chegamos a Luxemburgo, fazia um frio inacreditável! Mas eu adoro frio, então estava curtindo! O problema era que Si Fu ainda estava serio! E foi então que algo surpreendente aconteceu: Na Gare Central, ao descer do trem, descobri que não tem Uber em Luxemburgo, e aí começa a chover. A cena era: Eu, Claudio e Si Fu em pé na frente da estação com a chuva apertando e Si Fu me olhando serio como quem diz:"E ai? Você vai me deixar na chuva?"- Olhei para o leste e vi alguns taxis, e acabamos sendo atendidos por um senhor que era português. Era uma espécie de "português magico"! Sabe, talvez pelo numero de missões concluídas ao longo de nove dias, tenhamos "desbloqueado" esse "personagem secreto" de nossa aventura. E em apenas 10 minutos, ele explicou tudo que se possa imaginar sobre Luxemburgo: Como trabalhar lá, como viver, o salário mínimo, etc... Ele inclusive falava seis idiomas! Por fim, ele nos convidou para uma "sidequest" :"Vocês podem pegar um comboio(trem) e ir até Trier, na Alemanha.".
(O humor de Si Fu melhorou ao entrar no ônibus. Estava tanto frio, que o
calor do ônibus o fez esquecer, momentaneamente, de tudo até ali.)
Ao chegarmos no hotel, descobrimos que o check-in seria apenas as 14h. Naquele momento de desgraça, me lembrei do meu irmão Carlos Antunes, e pensei:"Se o Carlos estivesse aqui pra se desesperar junto de mim, seria bem mais engraçado."
Deixamos as malas no hotel e fomos até o ponto de ônibus! Em Luxemburgo, aos Sábados os ônibus são de graça!
Antes de pegarmos o trem para Trier, resolvemos almoçar num restaurante indiano. A comida era deliciosa e os atendentes extremamente educados. Mas eles nos olhavam de um jeito engracado:Era como se não fossemos bem-vindos, mas eles também não poderiam nos mandar embora(risos)
A viagem para Trier foi longa, mas recompensadora. Conversamos sobre temas variados, apreciamos a paisagem e Si Fu parecia muito satisfeito com o que via da Alemanha. Lembrei de meu irmão Kung Fu Fernando Xavier, quando vi as pistas de asfalto extremamente lisas e com a umidade da garoa que não parava de cair, serpenteando as margens dos rios. Como pistas tão bem asfaltadas poderiam existir naquele fim de mundo?
Ao chegarmos a Trier, me senti novamente com quatorze anos de idade jogando "Chrono Trigger" depois da escola e chegando a uma nova cidade. Tudo nesse lugar era magnifico! Estar na Alemanha para mim era uma emoção sem tamanho, devido a uma serie de questōes particulares!
Somente o poder pessoal desenvolvido em mim através da relação com Si Fu, poderia ser capaz de me fazer chegar até ali do jeito que chegamos!
A arquitetura do lugar era deslumbrante! Lembrei-me do meu irmão Clayton Meireles, e enviei uma serie de fotos da arquitetura local. Para minha surpresa ele comparou com a arquitetura de cidades históricas de Minas Gerais... Na mesma hora não enviei mais nada!
Ao final, num restaurante russo no subsolo da cidade onde aprecio essa cerveja feminina,tive uma das conversas mais emocionantes de minha trajetória com Si Fu. Tenho um irmão Kung Fu chamado Roberto Viana que é muito intenso assim como eu. Ele também é muito sensível, e aprecia momentos assim de forma muito inspiradora. Por isso, ao ouvir as palavras de Si Fu, me emocionaria por mim mesmo, mas tentei trazer em meu coração a memória do meu irmão Kung Fu.Imaginei ele ao meu lado, e o quanto ficaria feliz de ouvir aquilo. Afinal, ele me incentiva muito. Isso fez a experiencia ser ainda mais enriquecedora!
Queria transmitir em palavras tudo o que sinto ao olhar cenas como essa. Veja: Qualquer idiota compra uma passagem e faz uma viagem. O que tem de especial nesses momentos não são somente os lugares que vimos e que compartilhamos juntos, mas o que sentimos. E principalmente, a maneira com que a vida nos levou até ali.
Mesmo que você me conhecesse a minha vida inteira, ainda assim, nunca entenderia o que senti hoje. Mesmo que você conviva com seu Si Fu por vinte e um anos como eu, você nunca vai entender essa relação... Porque essa historia, é só minha.